Avaliação: novo Honda HR-V turbo, o que é ótimo e o que poderia ser melhor
A Honda parece mesmo disposta a tentar matar dois coelhos em uma cajadada só com a terceira geração global e segunda nacional do HR-V. Nas versões de entrada, com o pacato motor 1.5 aspirado flex de injeção direta da família City, seu alvo são os SUVs compactos. E ele tem no consumo de combustível seu principal trunfo.
Nesta semana, enfim começam a chegar às lojas as duas versões turbinadas da linha 2023, Advance e Touring. A elas, a fabricante japonesa aplicou uma robusta dose de desempenho que falta às opções de entrada, assim como incrementou a lista de equipamentos.
Porém, com a etiqueta em mais de R$ 185.000, no caso da variante de topo, a Touring, o novo HR-V deixa de brigar com Hyundai Creta, VW T-Cross e cia, ocupando a faixa de preço de um Jeep Compass Longitude T270. Será que vale a pena?
A Mobiauto conheceu o novo HR-V Touring em primeira mão na semana passada e traz agora suas impressões iniciais. Sim, o HR-V turbo 2023 anda bem e é bem equipado, mas o preço e a perda de algumas de suas capacidades em relação ao aspirado podem falar contra. Confira nosso vídeo completo e, mais abaixo, as impressões em texto.
Honda HR-V Touring 2023 - Preço: R$ 184.500. Pintura Cinza Basalto: R$ 2.000. Total: R$ 186.500
Design e acabamento interno
Em relação à versão EXL aspirada, que a Mobiauto já experimentou, as versões turbinadas do novo HR-V entregam diferenças estéticas pontuais. À frente, a grade ganha um acabamento pontilhado e com efeito 3D, em preto brilhante, assim como uma nova saia para o para-choque.
Os faróis são igualmente full-LED, com direito a luz diurna na borda superior, mas recebem um discreto inserto em prata acetinado no formato de L, emulando a presença de um projetor. Lá atrás, as lanternas ostentam acabamento fumê e a base do para-choque também foi redesenhada, enquanto as saídas de escape passam a ser duas.
Lateralmente, mudam as molduras das caixas de roda, pintadas de preto, e o desenho das rodas de liga leve: diamantadas e em dois tons. Porém, aqui elas também possuem 17 polegadas de diâmetro, assim como as demais opções, o que significa uma padronização no uso de pneus Pirelli Scorpion 215/60 com ombros generosos.
Por dentro, o padrão de acabamento é muito similar, com acréscimo de maçanetas internas cromadas, volante com raios em preto brilhante e couro sintético microperfurado nas faixas internas. A depender da cor externa da carroceria (branco, azul ou os dois tons de cinza oferecidos), tanto os bancos quanto a faixa intermediária do painel adotam um tom claro.
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Ângulos e vão livre menores
Por conta da adoção de para-choques com novos apliques na base, duas saídas de escape mais proeminentes e um motor mais potente, que demanda um silencioso maior (localizado na porção central do assoalho), o novo Honda HR-V turbo possui números inferiores ao aspirado em termos de capacidades de transpor obstáculos.
Os ângulos de ataque e saída, por exemplo, caíram de 17,8° para 16° e de 22° para 20,3°, respectivamente. Já o vão livre do solo foi reduzido de 18,5 para 18,1 cm.
Demais dimensões não mudam, incluindo o porta-malas de medianos 354 litros e o tanque de 50 litros posicionado sob os bancos dianteiros (o que explica a presença de uma barra transversal de ferro aparente sob o assoalho do SUV.
Dimensões e capacidades: 4.385 mm de comprimento, 2.610 mm de entre-eixos, 1.790 mm de largura, 1.590 mm de altura, 354 litros de porta-malas, carga útil não divulgada, 50 litros de tanque de combustível, 1.422 kg de peso em ordem de marcha.
Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensão McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); diâmetro de giro, 10,6 m; coeficiente aerodinâmico não divulgado; vão livre do solo, 181 mm; ângulo de ataque, 16°; ângulo de saída, 20,3°; ângulo de transposição de rampas não divulgado; pneus 215/60 R17; estepe temporário T145/90 R16.
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Desempenho e dirigibilidade
Como era de se esperar, o novo Honda HR-V turbo anda muito bem, obrigado. São 51 cv a mais de potência e 8,7 kgfm extras de torque em relação à configuração naturalmente aspirada. Vale lembrar que o motor é basicamente o mesmo 1.5 16V flex, incluindo injeção direta de combustível nos dois casos, porém com sobrealimentação.
Trata-se da mesma usina já usada pelo HR-V Touring da primeira geração nacional, porém convertido para aceitar também etanol. Para tanto a Honda: promoveu um tratamento nas superfícies do motor e nas galerias de alimentação, para que o conjunto suporte o teor mais alto de corrosão do etanol.
Também otimizou a pulverização do injetor, aplicou uma bomba de pressão mais alta, tornou a cabeça dos pistões mais resistentes à abrasão e adotou um coletor de escapamento tipo 4/2, que divide a coleta em duas etapas a fim de tornar mais fluido o fluxo de gases e reduzir a perda de baixa pressão na admissão. Com tudo isso, houve ganho de 4 cv e 2,1 kgfm em relação ao antecessor.
Na prática, o novo HR-V apresenta respostas muito boas, praticamente sem atrasos. Especialmente se você selecionar o modo Sport, exclusivo das versões turbo, e que muda o mapeamento de câmbio e acelerador.
Aqui, aliás, entra em cena o bom casamento do propulsor com a esperta caixa CVT que simula sete marchas. Você só vai ouvir o SUV “gritar” em kickdowns ou retomadas muito fortes, porque: 1) ainda é uma caixa continuamente variável; 2) o isolamento acústico não é tão bom quanto o preço sugere.
Dinamicamente, o novo HR-V possui um ajuste muito correto e equilibrado, sem deixar de ter características típicas de um SUV. Ele não chega a ser macio demais ao absorver impactos, o que é bom, mas também não transfere golpes secos aos ocupantes. Só a carroceria que inclina um pouco tanto lateral quanto longitudinalmente.
Em relação à geração anterior, a suspensão dianteira tipo McPherson recebeu uma barra estabilizadora dianteira mais rígida bieletas que promovem menor atrito. Já a traseira, por eixo de torção, adotou amortecedores de maior curso, batente com stop de poliuretano e buchas com flange mais emborrachada, a fim de reduzir a “secura” das pancadas.
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Mesmo a velocidades mais altas, o carro apresenta muito “chão” e a direção elétrica, que ganhou fixação mais rígida no subchassi, ficou ainda mais direta, passando ótima sensação de segurança e controle ao condutor. Faltou apenas um eixo traseiro independente para deixar a dinâmica ainda mais precisa ao transpor obstáculos na estrada.
Motor: 1.5, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, flex, injeção direta, duplo comando variável de válvulas com variação inteligente na admissão
Taxa de compressão: 10,6:1
Potência: 177 cv (G/E) a 6.000 rpm
Torque: 24,5 kgfm (G/E) de 1.700 a 4.500 rpm
Peso/potência: 8,03 (G/E) kg/cv
Peso/torque: 58,04 kg/kgfm (G/E)
Câmbio: automático CVT, 7 marchas simuladas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: 8,9 s (G/E)
Velocidade máxima: 200 km/h (G/E)
Consumo
Para entregar um desempenho melhor, o novo HR-V turbo sacrificou aquilo que o aspirado tem de melhor: o consumo. Todas as suas medições no Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro são inferiores e não é por pouca margem. Compare:
Novo HR-V turbo – Consumo Inmetro: 7,9 km/l com etanol e 11,3 km/l com gasolina na cidade; 8,8 km/l com etanol e 12,6 km/l com gasolina na estrada.
Novo HR-V aspirado – Consumo Inmetro: 8,8 km/l com etanol e 12,7 km/l com gasolina na cidade; 9,8 km/l com etanol e 13,9 km/l com gasolina na estrada.
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Conforto e tecnologia
Em relação à versão EXL aspirada, o HR-V Touring 2023 acrescenta ar digital de duas zonas, sensores dianteiros de estacionamento, quadro de instrumentos parcialmente digital de 7”, carregador de celular por indução, banco do motorista com ajuste elétrico, chave com partida remota do motor, retrovisor direito com tilt down, dois tweeters traseiros extras e porta-malas com abertura automática.
Este último é um item interessante e, talvez, único no segmento: além da abertura por sensor de aproximação das pernas no para-choque, ele possui um botão que programa o fechamento automático assim que detecta que a chave se afastou do veículo. É uma boa pedida para quem, por exemplo, acabou de tirar uma caixa ou sacolas, ficando com as mãos ocupadas.
De resto, o nível de segurança é o mesmo das versões aspiradas, que já incluem a bordo seis airbags e todo o pacote do sistema Honda Sensing. O mesmo vale para o nível de conforto, com os chamados bancos dianteiros com “estabilizador corporal” e os traseiros com o sistema de modulação conhecido como “Magic Seats”.
Por fim, só a versão Touring permite o uso do sistema MyHonda Connect, já explicado pela Mobiauto neste outro artigo.
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Honda HR-V Touring 2023 – Itens de série
Alarme
Freio de estacionamento eletrônico com função Brake Hold
HSA (Assistente de partidas em aclive)
Controles eletrônicos de estabilidade e tração
Assistente de Controle de Descida (HDC)
Airbags frontais, laterais e de cortina (6 airbags)
Cinto de segurança de 3 pontos e encosto de cabeça para todos os ocupantes
Cinto de segurança dianteiro com sistema de tensionamento
Lembrete de afivelamento dos cintos dianteiros e traseiros
Trava infantil nas portas traseiras
Sistema ISOFIX de fixação para cadeirinhas infantis
Câmera de ré multivisão com linhas dinâmicas (três vistas)
Alerta de pressão dos pneus (TPMS)
Lembrete de esquecimento de objetos no banco traseiro
Honda LaneWatch (câmera de assistência ao ponto cego no retrovisor direito)
ACC (Controle de cruzeiro adaptativo) com função Low Speed Follow (parada total e reaceleração autônoma em intervalo de até 3 segundos)
EBA (Frenagem autônoma emergencial com detecção de pedestres e ciclistas)
Assistente ativo de permanência em faixa
Alerta de mudança involuntária de faixaAjuste automático de farol alto
Limpador de para-brisa com função intermitente (variável)
Retrovisores externos com indicadores de seta em LED e rebatimento elétrico automático
Faróis de LED com DRL e acendimento automático (sensor crepuscular)
Faróis de neblina em LED
Para-choques esportivos
Escapamento duplo com ponteiras
Lanternas traseiras em LED com acabamento fumê e barra horizontal iluminada
Chave com sensor presencial e abertura e fechamento dos vidros
Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros
Travas elétricas
Vidros elétricos com "um-toque" e antiesmagamento
Alavanca de seta com One-Touch (pisca três vezes com um toque)
Coluna de direção com ajuste de altura e profundidade
Banco do motorista com ajuste elétrico
Banco traseiro com apoio de braço central e porta-copos
Porta-revistas nos bancos de passageiro e motorista
Desligamento automático dos fárois após 15 segundos
Tomada 12 Volts Dianteira
Jogo de tapetes com trava antiescorregamento (carpete)
Espelhos no quebra sol com iluminação
Retrovisor interno fotocrômico
Ar-condicionado digital automático de duas zonas com saída traseira
Entradas USB (2 dianteiras + 2 traseiras)
Botão de partida do motor
Banco traseiro Bipartido (60/40) com Magic Seat
Volante e alavanca do câmbio revestidos em couro sintético
Revestimento dos bancos em couro sintético cinza claro
Bancos dianteiros com Estabilizador Corporal
Sistema de som com 4 alto-falantes + 4 Tweeters
Central multimídia de 8” com Apple CarPlay e Android Auto sem fio
Controle de áudio no volante
Quadro de instrumentos digital de 7"
Carregador de celular por indução
Modos de Condução Econ, Normal e Sport
Retrovisor direito com tilt down
Sensor de chuva
Porta-malas com sensor de presença e função Hands Free
Partida remota
MyHonda Connect
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Vale a pena o novo Honda HR-V turbo?
O novo Honda HR-V é um carro bem construído e equilibrado. Nesta versão, tem um desempenho mais empolgante, talvez condizente com sua proposta, embora sacrifique o consumo de combustível e suas capacidades de transposição para isso.
Nisso, em tecnologia, segurança e até espaço interno ele não deve nada aos SUVs médios que concorrem com ele na faixa de R$ 185.000. Por outro lado, detalhes como isolamento acústico, dimensões externas, porta-malas e comportamento de suspensão nos lembram que o HR-V ainda é um SUV compacto, de segmento mais simples.
Assim, o que mais justifica o preço é o valor de marca. A Honda cobra o preço de um SUV médio de entrada pelo HR-V Touring 2023 porque construiu uma reputação para isso. Em outras palavras, porque sabe que vai ter muita gente disposta a pagar.
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Jornalista Automotivo