O absurdo tanque russo com raio laser que cegava inimigos a 10 km
Quem acompanha, mesmo que de longe, o desenvolvimento dos veículos autônomos (AVs) sabe que muitas das tecnologias embarcadas nos modelos que dispensam motoristas derivam do setor de defesa. Do GPS aos pneus run-flat, há uma enorme lista de recursos que usamos ao volante, todos os dias, que nasceram para aplicações militares e, isso, sem falar nos sistemas que, simplesmente, foram inviabilizados. Os enormes SUVs da Hummer, nominalmente o H1, derivam dos Humvee usados pelo Exército norte-americano na Guerra do Golfo, em 1991, mas o mais avançado veículo de combate de que se tem notícia não esteve a serviço do Tio Sam, mas dos soviéticos.
Acredite se quiser, naquele mesmo ano a Uraltransmash, fabricante russo de artilharia autopropulsada, entregou a primeira de duas únicas unidades – há quem diga que apenas uma foi testada em campo – do tanque 1K17 ‘Szhatie’ ou “Сжатие”, um blindado de combate com 41 toneladas, equipado com 12 a 16 canhões de laser – isso mesmo, raios laser!
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“A vantagem mais importante das armas a laser é seu fogo direto, a independência dos caprichos do vento e um esquema de mira simples, sem correções balísticas, que significam uma precisão inalcançável pela artilharia convencional”, conta o historiador militar Alexei Khlopotov.
“O prospecto oficial da época, da NPO Astrophysics, afirma que os canhões de laser atingiam alvos a uma distância de mais de dez quilômetros, o dobro do alcance de tiro de um tanque moderno. Isso significa que o 1K17 ‘Szhatie’ seria capaz de, ainda hoje, desativar um tanque inimigo, antes mesmo de ele abrir fogo. Soa como ficção-científica, mas você pode vê-lo com seus próprios olhos no Museu Técnico Militar de Ivanovskoye, próximo de Moscou”.
O 1K17 ‘Szhatie’ foi projetado sobre a mesma base do 2S19 Msta-S, um obuseiro autopropulsado. Para receber o conjunto optoeletrônico e os canhões de laser, sua torre foi ampliada e geradores de energia foram instalados na traseira. As 15 lentes que substituíam o canhão convencional eram cobertas por capas blindadas e, junto delas, foi instalada uma metralhadora antiaérea NSVT, de 12,7 mm.
Este titã da era soviética era equipado com um motorzão V8 que gerava potência de 840 cv, capaz de empurrar suas 41 toneladas por até 500 quilômetros. O tanque tinha ângulo de ataque de 30 graus, superava muros com até 85 cm de altura, valas com até 2,8 metros e trechos alagados com até 1,2 m de profundidade. Em rodovia, sua velocidade máxima chegava a 60 km/h.
Cadência de “tiro”
“Estamos falando de um sistema de lasers exaustivamente testado, desde os anos 60, e que, em 1982, já havia sido embarcado no 1K11 ‘Stilet’, que se limitava a desativar os orientadores optoeletrônicos de armas inimigas, como os usados por helicópteros de combate”, destaca o historiador militar Alexei Khlopotov. Este blindado, que precede o 1K17 ‘Szhatie’, detectava o alvo por radar e ‘cegava’ ou até mesmo queimava seu elemento sensível – uma fotocélula, uma matriz fotossensível ou a retina do operador que fazia a mira. Sua performance é, ainda hoje, impressionante: direcionava 196 feixes de laser a um alvo em uma fração de segundo, incluindo mísseis voando a uma velocidade de 5 km/s – cinco quilômetros por segundo!”
Nos testes de campo, o 1K17 ‘Szhatie’ foi capaz de desativar completamente a mira de um veículo inimigo a até 8 km de distância, conseguindo ainda cegá-la por minutos, em distância extremas. Em relação ao seu antecessor, o novo tanque trazia sistema de orientação individual para as fileiras superiores e inferiores de laser, em um esquema multicanal que os filtros inimigos não conseguiam bloquear – obviamente, seus telêmetros possuíam visão noturna.
“O que pouca gente se dá conta é que lasers móveis não são uma arma letal. Trata-se de um sistema incapaz de aniquilar tropas e que, fisicamente, não destrói nada. É uma arma de tecnologia avançada, sim, mas cuja eficácia se limita ao bloqueio de observação óptico-eletrônica, miras e mísseis de cruzeiro teleguiados”, frisa Khlopotov. “A lenda de que seus raios atingiam 20 mil graus Celsius, derretendo tanques e caças inimigos, é fantasia”.
O 1K17 ‘Szhatie’ foi construído, em dezembro de 1990, e imediatamente posto à prova, sendo recomendado para adoção depois de testes, a partir de 1992. Mas com o colapso da União Soviética, no final de 1991, a Rússia resolveu engavetar o projeto devido a seu elevadíssimo custo de produção. Outros fatores limitadores do tanque de raios laser foram sua baixa cadência de “tiro”, a vulnerabilidade no campo de batalha e a dificuldade de operação em espaços cercados por obstáculos naturais (cinturões florestais, colinas e montanhas) e até mesmo artificiais (pontes e edifícios).
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto
Jornalista Automotivo