Conheça o Zhido Rainbow, um microcarro elétrico de R$ 22.590
O Brasil se firma, cada vez mais, como o principal mercado para desova de automóveis em fim de carreira, onde tudo aquilo que europeus e norte-americanos não querem, nem de graça, é vendido por mais de R$ 100 mil e, o que é pior, alcançando bons níveis de satisfação dos clientes – vai entender. Mas na China, no seio do comunismo distópico, onde o povão é obrigado a comer ratos e escorpiões para sobreviver, a coisa é bem diferente.
Lá, os modelos populares têm de ser realmente práticos, já que não existem estradas, e baratos, já que o trabalho é escravo e a classe operária vive de vento. Neste contexto dá para entender como a Zhido, marca salva pela Geely – em conjunto com o Aima Technology Group – da falência, conseguiu lançar seu novo microEV, o pequenino Rainbow, por um preço inicial equivalente a R$ 22.590 (31.000 yuans).
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Note, caro leitor, que não se trata de uma motocicleta, nem de um triciclo, mas de um carro com dimensões ligeiramente inferiores que as de um Renault Kwid, preço 69% ou 3,2 vezes menor e cujo consumo de eletricidade equivale a inimagináveis 85 km/l.
É verdade que as linhas do novo Zhido Rainbow – o nome original do fabricante é Zhidou, mas, nesta nova fase o último “u” foi suprimido – parecem saídas de um mangá (quadrinho japonês) e não trazem o estilo de um Giorgetto Giugiaro, um Giuseppe Bertone ou um Battista ‘Pinin’ Farina (fundador da Carrozzeria Pininfarina), mas trata-se de um produto em que a imagem é compatível com o que se paga por ele. Comparado ao “bollywoodiano” Kwid, não há nada de desabonador nesse chinesinho.
De 0 a 50 km/h em 7 s
Com 3,22 m de comprimento (46 cm menor que o Renault), 1,51 m de largura e 1,63 m de altura, o microEV passa longe de oferecer a habitabilidade de um Volkswagen Virtus, para citar um sedã sem maiores pretensões, e sua distância entre-eixos de 2,10 m também é 30 cm inferior à do Kwid – se for rodar acompanhado apenas do passageiro da frente, o motorista pode rebater o encosto traseiro para obter 1.034 litros de capacidade volumétrica, no porta-malas.
O aperto é compensado pela economia, por 20 porta-trecos espalhados pela cabine, recursos bastante práticos como desbloqueio remoto, busca (no estacionamento), estacionamento pelo smartphone e carregamento programado das baterias.
Por falar nelas, há três opções com até 17,3 kWh e alcance de 205 quilômetros, todas fornecidas pela Guoxuan. Em termos de motorização, a Zhido oferece duas unidades 100% elétricas, com potência de 20 kW e torque instantâneo de 8,6 kgfm ou 30 kW e 12,7 kgfm, respectivamente – no Kwid, o torque máximo é de 10,0 kgfm e, mesmo assim, só está disponível a 4.250 rpm. Como em todo EV, o Rainbow conta com “transmissão automática”, bastando girar o seletor para o “D” e acelerar – o chinezinho vai de 0 a 50 km/h em menos de 7 s. A recarga completa das baterias leva cinco horas em uma tomada de 220 V.
É óbvio que, no Brasil do terraplanismo, muita gente dirá que prefere pagar três vezes mais por um Kwid, do que se arriscar a bordo do Rainbow – uma observação tola diante da intangibilidade, já que a Geely não irá vendê-lo por aqui. É uma questão de foro íntimo e que não se deve discutir, mas por pior que o lançamento da Zhido possa ser, cabe lembrar que o custo do quilômetro rodado com o popular da Renault jamais será inferior a R$ 0,38 – isso, de acordo com dados da própria montadora.
Então, cada vez que o hodômetro de um Kwid chegar nos 59.450 km, seu proprietário terá gasto – só com combustível – o equivalente a um Rainbow novinho.
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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo