Lamborghini Huracán Sterrato, o CrossFox distópico de luxo

Incompreensível versão fora de estrada do superesportivo tem vão livre maior e bitolas mais largas. A pergunta é: para quê?
HG
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02.06.2023 às 22:30 • Atualizado em 12.11.2024
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Incompreensível versão fora de estrada do superesportivo tem vão livre maior e bitolas mais largas. A pergunta é: para quê?

Lamborghini Huracán Sterrato. Uma das provas de que, se a desqualificação do ser humano o colocou sob ameaça da inteligência artificial (IA), poucas pessoas se dão conta de que a IA não é a substituta da inteligência, propriamente dita, mas da burrice humana.

E diante desta premissa basilar dá para entender as razões que levaram a Lamborghini a apresentar, nesta semana, na Art Basel, em Miami (Estados Unidos), seu “novíssimo” Huracán Sterrato. “Apresentamos uma obra de vanguarda”, acrescentou Winkelmann, em um dos eventos que fazem parte da semana de arte mais importante dos EUA.

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O modelo, seu primeiro “off-road”, combina aquilo que, aparentemente, era inconciliável no mundo de então: um superesportivo criado para queimar o asfalto com “estradas de terra”, como afirma a própria marca.

“Fiel à nossa ousadia, o Sterrato abre novos caminhos”, disse o presidente-executivo (CEO) da montadora, Stephan Winkelmann, repetindo um jargão que pode muito bem ser teletransportado para o lançamento da Kombi, no início dos anos 50.

O Huracán Sterrato pode ser qualificado como um superesportivo distópico, na medida em que materializa um futuro definido por circunstâncias incabíveis. De fazer inveja aos criativos engenheiros brasileiros que criaram “aventureiros” como o saudos VW CrossFox em meados dos anos 2000.

Comparada ao Huracán EVO, a versão fora de estrada tem vão livre 4,4 cm maior e bitolas mais largas (3,0 cm, na frente, e 3,4 cm, atrás), trazendo proteção extra, em alumínio, no assoalho, soleiras reforçadas, para-lamas e difusor traseiro estilizados.

“A clássica tomada de ar, na traseira, garante ar limpo ao dirigir em pistas empoeiradas”, enfatiza o chefão da Lamborghini, sem se dar conta da contradição que esta frase ostenta. Na parte eletrônica, o sistema LDVI traz, pela primeira vez, o modo ‘Rally’ para pisos de baixa aderência, além dos modos ‘Strada’ e ‘Sport’.

Visualmente, não há como definir o Huracán Sterrato a não ser pelo mau gosto. Olhando o arranjo estilístico bisonho do modelo, digo, sem medo nenhum de estar sendo injusto, que a Lamboghini acaba de atualizar o conceito de “baranguice” e, mais, que a partir deste lançamento, o verbete deveria ser, final e merecidamente, incluído nos dicionários.

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Como toda boa falsificação, o Huracán Sterrato traz aquilo que, pelo menos em tese, representa a essência do original: o motorzão V10 de 610 cv e a performance fantástica: 0 a 100 km/h em 3,4 s (2,9 s, na versão EVO) e velocidade máxima de 260 km/h (325 km/h, na EVO).

Ou seja, mesmo com perdas, ainda dá para acelerar forte, como garante o diretor técnico da marca, Rouven Mohr. “Combinamos a emoção de um superesportivo à do rali, ofertando um novo grau de emoção para nossos clientes”, define Mohr. No fundo, ele não está errado e, como diz o ditado, “enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé”...

Completando o pacote técnico, o “lindíssimo” Sterrato traz carro é equipado com pneus run-flat (que rodam até 80 quilômetros a uma velocidade de 80 km/h, mesmo depois de furados) 235/40 aro 19, na dianteira, e 285/40 também aro 19, na traseira – no Evo, a medida é 245/30 e 305/30, ambos aro 20, respectivamente.


Já os freios trazem discos ventilados e perfurados de 380 mm, com pinças monobloco de alumínio e seis pistões, na frente, de 365 mm e quatro pistões, atrás. São ótimas credenciais e, para quem gosta de exclusividade, a Lamborghini já anunciou que fará apenas 1.499 unidades desta versão. Sinceramente, não imaginava que existia tanta gente demodê assim.

Nos EUA, seu preço fica na casa dos US$ 270 mil – o equivalente a R$ 1,34 milhão, em conversão direta. Por aqui, este valor deve ser bastante inflacionado.

Indubitavelmente, o Huracán Sterrato é a prova de que Darwin estava errado e que, ao contrário do que sugeriu em seu clássico “A Origem das Espécies” (1859), a raça humana já experimenta o processo de involução. É um superesportivo “off-road” à altura dos Neandertais, uma obra de arte rupestre.

Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

Imagens: Divulgação/Lamborghini

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