Estudo quer provar que dá para ter um Kwid elétrico a menos de R$ 100.000
Por Felipe Oliveira
As inovações para melhorar a mobilidade urbana e, ao mesmo tempo, evoluir a questão de fontes renováveis de energia, não param de chegar. E um projeto brasileiro promete trazer uma grande novidade ao colocar um motor elétrico nas rodas traseiras de um Renault Kwid, fazendo dele um carro híbrido.
A inovação faz parte de uma parceria firmada entre o IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), a Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a Embrapii (Empresa Brasileira de Energia e Inovação industrial).
O objetivo é colocar em prática o projeto ConVerTe (Conversão de Veículos para Tração Elétrica), fornecendo kits de conversão de veículos térmicos em elétricos ou híbridos. O Kwid que será utilizado no projeto foi enviado em comodato pela Renault e ganhou motor elétrico para tracionar as rodas traseiras.
“Todo carro elétrico possibilita a economia de energia. No caso, o motor elétrico tem um rendimento [eficiência térmica] acima de 90%, enquanto um a combustão fica em torno de 20%. Ou seja, é uma questão de eficiência energética”, afirma o professor Adriano de Andrade Bresolin, coordenador do projeto.
Kwid E-Tech, o Kwid elétrico "oficial" da Renault
Como você já deve saber, há um Kwid elétrico “oficial”. É o E-Tech, recentemente lançado no Brasil por R$ 142.990. Sua chegada efetiva às lojas, porém, será em julho. Seu valor é o dobro de uma Kwid Outsider, versão de topo do subcompacto com motor 1.0 a combustão. E olha que ele é o carro elétrico mais barato no Brasil atualmente.
É justamente por conta do custo pouco acessível no país que os líderes do projeto estudam a possibilidade de oferecer pacotes de conversão. “No Brasil, um veículo elétrico é quase três vezes mais caro que na Europa. Está totalmente fora do preço do mercado por ter poucos incentivos, além de não ter produção nacional”, diz o professor.
O projeto ConVerTe promete diminuir o valor para a conversão de carros comuns em elétricos. “Queremos buscar uma saída para que veículos elétricos estejam compatíveis ao bolso do brasileiro. Por isso, estamos trabalhando com veículos da frota pública, legislativo, executivo e judiciário”, comenta o pesquisador.
“A ideia é que a gente tenha, ao final do projeto uma espécie de kit de conversão que esteja acessível ao brasileiro e não custe R$ 200.000. Queremos que o carro seja pagável”, explica o coordenador.
No caso do Kwid a ser usado no experimento, o custo da unidade (versão Intense) no varejo é R$ 66.490, enquanto a inclusão do conjunto elétrico traseiro deve ficar em R$ 25.000. Total: pouco mais de R$ 90.000.
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Kwid que será convertido pelos pesquisadores é da versão Intense e terá dois motores posicionados sobre as rodas traseiras
Um elétrico que na verdade é híbrido
O Kwid que vem sendo desenvolvido pela IFSC faz parte da execução do projeto que pretende utilizar tecnologia importada para a conversão. Para a conversão, dois motores axiais fabricados na China serão colocados ao eixo traseiro, um trabalhando em cada roda.
A bateria de cada um dos propulsores tem potência de 8 kW (10,9 cv), o que, somadas, resulta numa potência de 16 kW (21,8 cv) para fazer o carro arrancar com tração traseira. De acordo com Bresolin, os pesquisadores tentarão fazer a potência subir para 40 kW (54 cv).
O Kwid, contudo, será um híbrido, pois manterá o motor 1.0 SCe de três cilindros por baixo do capô, além de câmbio manual. Para seu funcionamento no modo elétrico, o motorista deverá colocar o veículo em neutro e acelerar.
“O sistema vai detectar que o carro está no neutro e que você está acelerando, mandando o sinal de aceleração para os motores [elétricos] posicionados nas rodas traseiras. Assim, o carro passa a andar em modo elétrico. Ele volta para [o motor a] combustão se você engatar uma marcha”, explica o professor.
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Má notícia é que este Kwid convertido a elétrico mantém as rodas com três furos...
Segundo Bresolin, esse método barateará o custo do veículo. “A vantagem de ser híbrido é que a gente consegue colocar uma bateria pequena. Não estamos trabalhando com uma de alta potência, que é mais cara. Além disso, será mais fácil carregá-la”, diz o professor. Segundo ele, uma recarga rápida poderá ser realizada em seis minutos.
A ideia é trabalhar com baterias modulares, que gerem um alcance entre 50 e 60 km em modo 100% elétrico a cada módulo instalado. “Quer andar 50 km no dia? Teremos a opção [de um módulo]. Quer andar 120 km? Basta incluir um segundo pack [de baterias]. O consumidor não precisaria comprar o carro com uma bateria acima do que ele necessita”, argumenta.
“Essa é a solução para o Brasil. Diversificar o tamanho da bateria, que é o que torna o carro mais caro”, complementa.
O pesquisador destaca que a intenção é manter o motor a combustão como um coringa, a ser usado apenas quando a energia das baterias acabar. Porém, diferentemente do BMW i3 REX, que tem um motor térmico operando como gerador, o propulsor 1.0 do Kwid traciona diretamente as rodas dianteiras. Por isso, pode-se considera-lo um carro híbrido.
Além do Renault Kwid Elétrico, o projeto ConVerTe vai converter outros quatro carros. Até o momento, os outros veículos que estão em processo são uma Fiat Strada e um Fiat Fiorino - os outros dois veículos ainda não foram informados.
Imagens: Arquivo pessoal e Divulgação/Renault
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