Por que a propaganda da nova VW Kombi causou tanta polêmica
Para comemorar os 70 anos de Brasil, a Volkswagen apresentou uma peça publicitária que dividiu opiniões. O vídeo em questão apresenta as cantoras Maria Rita e Elis Regina – reinterpretada por Inteligência Artificial – duetando a música “Como Nossos Pais”, de Belchior. Enquanto cantam, cada uma dirige uma geração da Kombi, Maria com a novíssima ID.Buzz e Elis com a saudosa Kombi Corujinha.
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A Volkswagen se valeu de ser uma das fabricantes com maiores ligações emocionais com público brasileiro, já que vendeu veículos icônicos e populares como Fusca, Kombi e Gol. Todos eles fizeram parte da infância de uma considerável parcela da população, nem que seja de maneira pontual.
Porque muita gente gostou
É inevitável ver uma propaganda dessa e não fazer ligações com algum momento da vida em que um veículo da Volkswagen não esteja presente. Pode ser desde aquele Fusca clássico do seu tio tratado como um legítimo xodó ou mesmo aquela Kombi que você voltava do supermercado junto das compras (pessoas com mais de 20 anos vão entender), provavelmente você teve contato com algum modelo da VW em um momento da vida.
No comercial é retratado os veículos antigos da marca, o que por consequência atingiu emocionalmente muita gente. Isso desde quem era criança naqueles tempos (leia-se décadas de 60, 70, 80 e 90), ou mesmo quem foi dono de um carro da Volkswagen. Não importa, isso acabou mexendo com o coração das pessoas, até mesmo de proprietários de modelos atuais da fabricante, vide um T-Cross que aparece num casamento.
“Lembrei 1977. Minha querida mãe dirigindo uma Brasília amarela, 5 filhos no carro, 7 horas da manhã, deixando um por um em 3 colégios”, comentou Manuel Junior na publicação da marca no Youtube. Esse relato dentre tantos outros revelam como a propaganda mexeu com a memória afetiva das pessoas.
Não precisamos nem comentar sobre como o “reencontro” de Maria Rita com sua mãe via software, que causou bastante impacto numa via de mão dupla. A música “Como nossos pais” de Belchior interpretada por Maria Rita e a saudosa Elis Regina parece também ter sido bem recebida pelos fãs da marca e, junto de todo o contexto da peça publicitária, fez muito sentido para o público que tem alguma memória com veículos da VW.
“Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais” remete na peça diretamente à essa ligação entre pais e filhos junto da evolução dos veículos. Uma Kombi antiga com motor a combustão ao lado da VW ID.Buzz elétrica (popularmente chamada de nova Kombi) exemplifica bem isso, já que mesmo que as gerações mais novas estejam num carro elétrico, ainda “vivem como os pais”. Viagens, momentos marcantes e até mesmo mais “calientes”, vide o Nivus com o vidro embaçado...
Porque alguns não gostaram
Da mesma forma que o reencontro entre a Maria Rita e Elis Regina reinterpretada por Inteligência Artificial acabou emocionando muita gente, uma parcela acabou enxergando o uso da imagem da Elis Regina (falecida em 1982) como mórbido e de mau gosto.
Ainda que a família da cantora tenha autorizado a ação da Volkswagen, muitas pessoas viram problemas em usar a imagem de Elis Regina para divulgar um produto de uma empresa, no caso, a ID.Buzz, que será vendida no Brasil num lote limitado de 70 unidades (alusivo aos 70 anos da empresa no país).
Outro ponto alvo de reclamações via redes sociais ou mesmo por meio de opiniões de colunistas em alguns sites foi o conflito de ideias dentro da campanha publicitária, por mais que isso não estivesse nítido.
Tal discussão se deu porque a cantora Elis Regina foi contra a ditadura militar, regime que perdurou no Brasil entre 1964 e 1985. Já a Volkswagen foi apontada como aliada ao regime naqueles tempos, segundo o Ministério Público Federal, que divulgou relatórios como é detalhado nesta reportagem do UOL.
Foi criticada também a forma como foi usada a música “Como nossos pais” composta por Belchior. Reclamações em redes sociais apontam que a canção, lançada em 1976, é uma crítica velada aos militares do regime, enquanto a propaganda passa uma ideia de encontro de gerações em torno do “novo que sempre vem”.
Repórter
Entusiasta de carros desde criança, achou no jornalismo uma forma de combinar paixão e profissão. É jornalista formado pela faculdade FIAM-FAAM e atua no setor automotivo desde 2014, com passagens por Auto+, Quatro Rodas e Motor1 Brasil.