Cinco razões para pensar bem antes de comprar um SUV

Utilitários esportivos estão dominando o mercado e ameaçando outros segmentos, mas atenção: eficiência não é o forte deles

LF
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19.01.2021 às 19:35
Utilitários esportivos estão dominando o mercado e ameaçando outros segmentos, mas atenção: eficiência não é o forte deles

Os SUVs estão povoando cada vez mais e transformando o mercado brasileiro de carros. Meros coadjuvantes de um setor antes predominado por hatches e sedans, eles representavam apenas 7,63% de todos os emplacamentos em 2010. Em 2020, já responderam por 32,7% ou quase um terço de todo o volume de vendas.

Tal ascensão tem afetado diretamente outros segmentos da indústria. Os hatches médios, por exemplo, praticamente desapareceram (resta somente o Chevrolet Cruze Sport6 entre as marcas generalistas), assim como os monovolumes e minivans (Honda Fit e Chevrolet Spin são os sobreviventes).

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O mercado de sedans, em especial o de grandes e médios, é outro diretamente afetado: enquanto os três-volumes de maior porte já estão quase extintos, entre os médios restam apenas três modelos de relevância: Toyota Corolla, Honda Civic e VW Jetta, sendo que Corolla e Jetta em breve terão suas vendas afetadas pela chegada de Corolla Cross e Taos.

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Mas por que a busca por SUVs cresceu tanto? O porte maior da carroceria, a posição mais elevada de dirigir, o vão livre mais generoso do solo e a perspectiva de robustez a bordo são alguns dos fatores.

De fato, dirigir um utilitário esportivo em meio a vias por vezes em péssimo estado de conservação confere um nível superior de conforto e segurança, enquanto o ponto H mais alto melhora a visibilidade, a noção de espaço e a sensação de segurança. E tem, claro, a questão do status.

Mas tudo vem com um preço. Ao optar por um SUV, o novo proprietário precisa ter claro em mente algumas consequências não tão positivas assim de sua escolha, até para não se frustrar. Neste artigo, vamos listar cinco delas.

Consumo

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Uma das maiores reclamações entre pessoas que compram SUV é: “Eu não esperava que ele fosse gastar tanto combustível”. Por mais que o nosso estilo de condução afete (e muito) o consumo, o fato é que o tipo de carroceria não deixa muita margem para economia.

Um SUV, por concepção, é mais alto e largo, o que significa que será sempre mais pesado e terá um coeficiente aerodinâmico inferior ao de um hatch, sedan ou perua. É possível perceber isso facilmente no mundo real, mesmo entre os SUVs mais eficientes de nosso mercado.

O VW T-Cross Comfortline 200 TSI, por exemplo, é construído sobre a mesma plataforma MQB A0 do Virtus Highline 200 TSI, compartilhando com ele a motorização (1.0 TSI três-cilindros turboflex com injeção direta de 128 cv e 20,4 kgfm, aliado a câmbio automático), o conjunto de suspensões (McPherson no jogo dianteiro, eixo de torção no traseiro) e até a distância entre eixos (2,65 metros).

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Só que, por ser um utilitário esportivo, pesa 61 quilos a mais (1.252 kg contra 1.191 kg), tem 4,1 cm a mais de vão livre do solo (19,1 cm ante 15 cm) e possui um coeficiente de arrasto de 0,362 Cx, enquanto o sedan alcança 0,326 (aqui, quanto menor o número, maior a eficiência aerodinâmica).

Resultado: enquanto o T-Cross 200 TSI registra um consumo no programa de etiquetagem veicular do Inmetro de 7,6/9,5 km/l com etanol, sendo 10,8/13,4 km/l com gasolina (ciclos urbano/rodoviário), o Virtus 200 TSI atinge 7,8/10,2 km/l e 11,2/14,6 km/l, respectivamente. O T-Cross pode até ser mais alto para transpor valetas, mas o Virtus é até 9% mais econômico.

Ainda não se convenceu? Um Chevrolet Tracker Premier 1.0 Turbo também aproveita plataforma (GEM), motorização (propulsor tricilindro turboflex sem injeção direta de 116 cv e 16,8 kgfm, aliado a câmbio automático de seis marchas) e suspensões do Onix Plus Premier 1.0 Turbo, com a curiosidade de ter um entre-eixos até menor (2,57 m contra 2,60 m).

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Mesmo assim, pesa 131 kg a mais (1.248 ante 1.117 kg) e possui um Cx de 0,352, enquanto o sedan chega a incríveis 0,305. Com isso, no Inmetro, suas médias de consumo são 8,2/9,6 km/l com etanol e 11,9/13,7 km/l usando gasolina. O três-volumes, por sua vez, faz 8,6/10,9 e 12/15 km/l, respectivamente. Parece pouco, mas a diferença chega ao pico de 9,5%.

Outro caso é o do Nissan Kicks em relação ao novo Nissan Versa, que compartilham a plataforma V, o motor 1.6 quatro-cilindros aspirado flex de 114 cv e 15,5 kgfm, o câmbio CVT e as suspensões (novamente McPherson à frente e com eixo de torção atrás).

No SUV, o coeficiente de arrasto é de 0,345 e o consumo, de 7,7/9,4 km/l (etanol) ou 11,4/13,7 km/l (gasolina). No sedan, de 0,315 e 8/10 ou 11,7/13,9 km/l. E olha que a diferença de peso entre eles é de apenas 11 kg (1.142 vs 1.131 kg). 

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Talvez o caso mais drástico seja o do Renault Duster 1.6 CVT (quatro-cilindros aspirado flex de 120 cv e 16,2 kgfm) em relação ao Logan com mesmo motor e câmbio. Novamente aqui temos plataforma (B0) e suspensões similares, mas o entre-eixos do SUV é até maior (2,67 m ante 2,63 m). 

Por isso mesmo, pesa 119 kg a mais (1.279 kg na versão Iconic, contra 1.160 kg do extinto Logan Intense) e tem um Cx de 0,4, enquanto o do Logan fica em 0,34. Consumo do Duster no Inmetro: 7,2/7,8 km/l com etanol (cidade/estrada); 10,7/11,1 km/l com gasolina. Do Logan: 7,9/9,1 km/l ou 11,7/13,4 km/l. Diferença de quase 21% com gasolina em rodovias. 

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Desempenho

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Se economia de combustível não é problema para você, talvez sua prioridade seja ter na garagem um carro com bom desempenho. Só que aqui, mais uma vez, os SUVs levarão desvantagem em relação a hatches, sedans e peruas com motorização similar.

Peguemos o 0 a 100 km/h oficial de todos os modelos irmãos citados anteriormente, lembrando sempre que SUVs e sedans comparados usam exatamente o mesmo conjunto motriz:

VW T-Cross Comfortline 200 TSI AT: 10,4 s
VW Virtus Highline 200 TSI AT: 9,9 s

Chevrolet Tracker 1.0 Premier Turbo AT: 10,9 s
Chevrolet Onix Plus 1.0 Premier Turbo AT: 10,4 s

Nissan Kicks SL 1.6 CVT: 12 s
Nissan Versa Exclusive 1.6 CVT: 10,7 s

Renault Duster Iconic 1.6 CVT: 12,4 s
Renault Logan Intense 1.6 CVT: 11,2 s

Novamente, o que explica a notória desvantagem dos SUVs é o caráter intrínseco ao seu tipo de carroceria: mais alta e pesada, além de aerodinamicamente inferior. No caso do Kicks, a desvantagem chega a 1,3 s ou 12% no comparativo com o Versa, mesmo tendo sob o cofre o mesmíssimo casamento de motor e câmbio.

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Estabilidade

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Por mais moderno e tecnológico que um SUV seja, seu estilo de carroceria vai interferir em outro ponto que pode ser muito importante para o comprador: estabilidade para desviar de acidentes a altas velocidades numa rodovia.

Por serem mais altos e pesados, além de costumeiramente contar com suspensões elevadas em relação a hatches, sedans e peruas, os utilitários esportivos apresentam muito mais dificuldade para se manter estáveis em mudanças bruscas de direção.

Aqui, de novo, é uma questão simples e pura de física: a maior altura da carroceria e das suspensões, o peso extra e o centro de gravidade mais alto farão o veículo inclinar mais e sofrer com a ação de força centrípeta superior ao contornar uma mesma curva à mesma velocidade de um carro mais baixo e leve.

É por isso que, recentemente, Toyota RAV4 e VW Tiguan, dois SUVs de marcas conceituadas no mercado, apresentaram desempenho temerário no popular teste do alce, chegando quase a capotar (veja o teste do RAV4 aqui e o do Tiguan aqui). 

Como comparação, a perua Toyota Corolla Touring Sports e o sedan grandalhão VW Artheon, que são das mesmas fabricantes, não enfrentaram problema similar em teste idêntico. Portanto, para quem dirige muito em rodovias, um SUV talvez não seja a melhor opção.

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Preço e manutenção

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Como já mostramos nos tópicos acima, os SUVs mais populares oferecidos no Brasil aproveitam muito dos projetos de hatches e sedans compactos: plataforma, motores, mecânica... Ainda assim, custam um bocado a mais.

Se um Virtus Highline 200 TSI parte de R$ 102.490, um T-Cross Comfortline 200 TSI começa em R$ 119.190, uma diferença de R$ 16.800. E se um Onix Plus Premier II 1.0 Turbo AT sai por R$ 89.390, o Tracker Premier 1.0 Turbo alcança R$ 117.990, um abismo de R$ 28.600. Já o novo Versa Exclusive custa R$ 96.690, R$ 21.100 a menos que os R$ 117.790 do Kicks SL Pack Tech.

Ah: e prepare-se para enfrentar uma manutenção mais cara em alguns pontos. Para trocar itens como faróis, para-choques, rodas ou pneus, por exemplo, os de um SUV costumam ser mais caros, geralmente porque são maiores. 

O alento é que, quando usam o mesmo motor, os utilitários esportivos apresentam valores similares de revisões com preço fixo entre 10 mil e 60 mil km em relação a um hatch ou sedan com quem formam família. Só faltava um SUV ser mais caro até nisso...

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Nem tanto espaço assim

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Compradores de SUV tendem a achar que, devido ao porte, um modelo desse tipo vai proporcionar um espaço interno superior. Isso nem sempre é verdade. Quem viaja na fileira traseira de um Ford EcoSport ou Jeep Renegade não nos deixará mentir.

Se o ponto H, a visibilidade e o espaço para a cabeça tendem a ser melhores num utilitário esportivo, sedans costumam ser mais generosos com as pernas e os ombros dos ocupantes, além de terem um porta-malas geralmente muito maior. 

Que o digam os 469 litros de volume do Onix Plus ante os 393 l do Tracker, ou os 521 l do Virtus perante os 373 l do T-Cross. No caso do Renegade, inclusive, o bagageiro de 320 l fica no nível de um hatch compacto. Isso sem falar que, na faixa de preço de um SUV compacto, é possível adquirir um sedan médio, aí sim, bem mais espaçoso em todos os quesitos.

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