Chevrolet manterá estratégia de elétricos, garante chefona da GM
CEO da companhia descarta cavalo-de-pau e diz que híbridos plug-in são “ponte” para cumprir limites de emissão; Brasil está inserido em plano global de US$ 35 bilhões, desde o ano passado
“Deixem-me ser clara: a General Motors vai zerar as emissões de seus veículos leves, nos Estados Unidos e Canadá, até 2035. A GM mantém sua estratégia para EVs, com foco nas marcas Chevrolet, Cadillac e GMC, além dos furgões BrighDrop, bem como a estimativa comercial de até 300 mil unidades para este ano, só no mercado norte-americano. Mantemos a previsão de lucro variável para nossos veículos elétricos, já para 2024, e alcançaremos uma capacidade instalada para produção de um milhão de EVs, na América do Norte, até o ano que vem. No mesmo sentido, os cronogramas de lançamento dos novos Equinox EV e Silverado EV seguem inalterados. Portanto, a reinserção da tecnologia plug-in, que voltaremos a ofertar para alguns modelos e segmentos, apenas nos auxiliará a cumprir os limites impostos pelos programas governamentais de controle de poluentes e redução do consumo de combustíveis”, afirmou a presidente-executiva (CEO) da companhia, Mary Barra, durante a teleconferência da semana passada em que se divulgou o relatório do último trimestre de 2023 para acionistas e imprensa especializada.
Com esta fala cristalina, a CEO da GM nega, peremptoriamente, um cavalo-de-pau que colocaria a gigante automotiva na contramão da virada da eletromobilidade. “A procura dos consumidores norte-americanos por EVs é menor do que na Europa e na China, ao passo que os governos estaduais adotarão regras para emissões ainda mais rigorosas, nos próximos anos”, detalha Barra.
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“A proposta apresentada pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA exige uma redução média anual de 13% para toda a frota, com um corte de 56% dos poluentes, a partir de 2026. Para nos adequarmos à nova regulamentação, os EVs teriam que responder por 2/3 das vendas de nossas marcas e – na impossibilidade de alcançá-lo – os híbridos plug-in farão uma ponte para os consumidores”, acrescentou.
Para além das questões regulatória, de mercado e da manipulação dos fatos, que faz do solo brasileiro o mais fértil do mundo para as ‘fake news’ florescerem, a verdade é que os modelos 100% elétricos ainda não são rentáveis para a General Motors – simples assim. Mas há quem os veja como uma “oportunidade única” para a empresa se manter entre os líderes globais do setor automotivo.
“Penso nos EVs como uma nova oportunidade para trazer os clientes aos nossos showrooms, fazendo-os anotar a GM em sua lista de compras e incrementando nossos negócios, no futuro”, avalia o vice-presidente global da marca Chevrolet, Scott Bell. “No mercado norte-americano, teremos opções totalmente eletrificadas para nossos carros-chefe de vendas, tanto entre os crossovers (o Equinox EV) quanto entre as picapes (a Silverado EV), no segundo semestre”, pontua Bell.
Números consolidados de 2023 mostram que os EVs responderam por 7,2% das vendas
de carros de passeio e comerciais leves, nos EUA, bem menos que a participação
de 16%, no mercado europeu, e de 25%, na China. No Brasil, a participação dos
modelos elétricos não chega nem a 1% - fechou o ano passado com 19.310 unidades
e uma fatia de 0,88% das comercializações nacionais, alta de quase 130% sobre
as 8.460 unidades registradas em 2022.
“Mais abrangente linha de EVs”
Há dez meses, a subsidiária brasileira da General Motors confirmou que o Campo de Provas de Cruz Alta (SP) e o Centro Tecnológico nacional já vinham sendo usados para o desenvolvimento de EVs globais, contemplados por um plano que, até 2025, vai receber investimentos de US$ 35 bilhões (o equivalente a R$ 175,4 bilhões ou 19 vezes mais do que o anunciado pela Volkswagen para o Brasil, recentemente).
“Esta primeira etapa contempla três diferentes projetos globais de veículos livres de emissões, todos da marca Chevrolet, que serão lançados, primeiramente, no mercado norte-americano”, conta o presidente da GM América do Sul, Santiago Chamorro, se referindo à dupla formada pelo Equinox EV e pela Silverado EV.
“Nosso plano para o Brasil é oferecer a mais abrangente linha de EVs do mercado, que irá complementar o atual portfólio. Outra parte importante dessa transição até um futuro sustentável é tornar cada vez mais eficientes nossos atuais veículos a combustão”, completa Chamorro, reforçando a fala de Mary Barra e reafirmando a mesmíssima estratégia de requalificação da gama atual.
A coexistência de modelos tradicionais com EVs durante a virada da eletromobilidade é um movimento natural, mas que, infeliz e injustificadamente, tem escapado à cognição dos brasileiros: “É preciso compreender que o cliente que opta por um veículo elétrico é muito diferente do consumidor regular. Trata-se de um novo perfil”, explica o presidente do Conselho Norte-Americano dos Concessionários Chevrolet (CNDC), Andy Guelcher.
“Os carros de passeio e comerciais leves equipados com motores a combustão interna ainda respondem pela maior fatia das vendas e, o principal, pela lucratividade do negócio. Já os EVs representam o ingresso de novos compradores e, obviamente, de vendas adicionais. A companhia está lançando sua própria plataforma de varejo digital, começando pelos revendedores da Cadillac. Estamos criando uma ferramenta multicanal para potencialidades que evoluem”, complementa Guelcher.
Para a GM, é normal que haja uma volatilidade no mercado de EVs, com situações pontuais muito diferentes entre regiões como a China, onde os números e a concorrência são crescentes, e a Europa, onde a missão de puxar a eletrificação fica a cargo do Cadillac Lyriq.
“A indústria automotiva nunca passou por uma transformação como a atual. Bom, pelo menos desde que eu nasci”, brinca o novo líder comercial global da empresa, Rory Harvey. “Não temos um roteiro sobre como as coisas irão acontecer, igual ocorre no cinema, mas temos um leque de produtos que nos permite atuar de forma consistente e nos adaptar rapidamente às mudanças. Até agora, a virada da eletromobilidade é pautada pela robustez e rapidez, mas temos flexibilidade para ajustar a produção dos diferentes trens de força de que dispomos. O mercado está em transição e trilhamos um caminho por onde ninguém nunca passou, antes”, lembra Harvey.
Bom, o leitor que chegou até aqui neste texto pôde conferir o que disseram os três executivos mais importantes da General Motors, em nível mundial, além do chefão continental para nossa região. Agora, você vai acreditar em quem quiser: na cúpula da GM ou no “youtuber” de sua preferência...
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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.